O pronunciamento de Jair Bolsonaro na noite de terça-feira, 24/03, foi curto, grosso e provocativo.
Tanto que, desde então, dezenas de manifestações e documentos contrários a posição do presidente (é p minúsculo mesmo, Bolsonaro não merece um p maiúsculo) do Brasil já foram divulgados.
As reações partiram da direita e da esquerda.
O presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP), cujo partido faz parte do governo disse:
“Neste momento grave, o País precisa de uma liderança séria, responsável e comprometida com a vida e a saúde da sua população”. […]. “A Nação espera do líder do Executivo, mais do que nunca, transparência, seriedade e responsabilidade”.
O que Alcolumbre espera de Bolsonaro não temos nem teremos.
Bolsonaro não é sério, “responsável e comprometido com a vida e a saúde da sua população”.
Muito menos age e agirá com “transparência, seriedade e responsabilidade”.
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse:
“Desde o início desta crise venho pedindo sensatez, equilíbrio e união”. […]. “Precisamos de paz para vencer este desafio.”
Rodrigo Maia, não adianta pedir “sensatez, equilíbrio e união”, para quem não é sensato tampouco equilibrado.
Quanto à “união”, ela não vai existir, porque nenhuma autoridade em sã consciência vai querer embarcar no barco dos insensatos e desequilibrados.
Sim, Rodrigo Maia, “precisamos de paz para vencer este desafio”, mas Bolsonaro quer guerra contra o povo e não contra o coronavírus.
Tanto que, mesmo sabendo, desde o inicio do mês de janeiro, que a epidemia chegaria, não tomou nenhuma iniciativa para preparar o Brasil para enfrentá-la.
“A pandemia da Covid-19 exige solidariedade e co-responsabilidade”, disse Gilmar Mendes, ministro do STF.
Ora, Ministro, o senhor pede aquilo que Bolsonaro é incapaz.
Ele sempre pregou a violência: tortura e morte dos que pensam diferente., E, agora, são tantos pensando diferente que ele está se sentindo encurralado e, como qualquer animal encurralado, se torna perigoso.
Alguns governadores se manifestaram na noite de terça, outros ontem.
Bolsonaro finalmente quase conseguiu a unanimidade: alinhou a maioria dos governadores contra ele, inclusive os mais fiéis, como por exemplo, Ronaldo Caiado (DEM-GO).
Não vi nada do governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD). Mas não sei se dá para esperar alguma coisa do fiel escudeiro –ideológico e programático –de Bolsonaro, cujo pai tem as burras enchidas por recursos federais: cada entrevista do Bolsonaro para o Ratinho (pai), rende, direta ou indiretamente, alguns milhares de trocados.
Alguns classificaram o pronunciamento do Bolsonaro como sendo de um lunático, idiota, imbecil e por aí vai.
Classifico-o, no mínimo, irresponsável perante o povo brasileiro. Mas ele sabe o que faz, ele teve, até prova em contrário, um objetivo e, não classificaria como de um louco.
Bolsonaro não fala só por sua cabeça. Tem assessoria, a maioria militares. E para falar o que fala, é porque é sustentado. Ninguém fala o que ele fala se não tiver o mínimo de sustentação.
O pronunciamento de Bolsonaro é de quem está jogando: ou tudo ou nada.
Se sustentado por forças militares, por inteiro ou em parte, está jogando com a possibilidade que pode ter tudo, ou seja, pode impor uma ditadura. Caso contrário perde tudo, ou seja, sofre um impeachment.
Todas as pessoas minimamente informadas sabem que Bolsonaro sempre defendeu ditaduras, em especial a última ditadura militar. E que sempre disse que a mesma matou pouco, que tinha que matar umas 30 mil pessoas para pacificar o país.
O pronunciamento de Bolsonaro é o desejo de matar estas 30 mil pessoas. Se impuser a ditadura, ele e seus milicianos escolhem, com alguns erros, quem será os 30 mil que devem morrer.
Se não impuser a ditadura –mesmo que sofra o impeachment– e a a população seguir a sua orientação, entre outras, de voltar ao trabalho e as aulas, teremos a morte, pelo coronavírus, das 30 mil pessoas que Bolsonaro sempre desejou na época da ditadura.
Talvez não aqueles que ele deseja.
No transcorrer do texto usei propositalmente a palavra pronunciamento e não discurso.
Segundo Houaiss a palavra pronunciamento, por derivação, também significa “qualquer golpe de Estado apoiado ou organizado por um exército”.
Fiquemos atentos, sem baixar a guarda, caso contrário pode ser que seja tarde.
Fora Bolsonaro e novas eleições.
*Dr. Rosinha é médico pediatra, militante do PT. Pelo PT do Paraná, foi deputado estadual (1991-1998) e federal (1999-2017). De 2015 a 2017, ocupou o cargo de Alto Representante Geral do Mercosul.
Fonte: PT Paraná