O número de crianças que morreram antes de completar cinco anos atingiu um mínimo histórico, caindo para 4,9 milhões em 2022 no mundo, de acordo com as últimas estimativas divulgadas nesta quarta-feira (13) pelo Grupo Interinstitucional das Nações Unidas para Estimativa da Mortalidade Infantil (UN IGME).
O relatório revela que mais crianças estão sobrevivendo hoje no mundo, com a taxa global de mortalidade infantil abaixo dos 5 anos tendo diminuído 51% desde 2000.
No Brasil, a queda foi de 60% no mesmo período. Camboja, Malawi, Mongólia e Ruanda reduziram a mortalidade abaixo dos 5 anos em mais de 75% no período.
"Por trás desses números estão as histórias de parteiras e profissionais de saúde qualificados ajudando as mães a dar à luz seus recém-nascidos com segurança, trabalhadores de saúde vacinando e protegendo crianças contra doenças mortais, e agentes de saúde comunitários que fazem visitas domiciliares para apoiar famílias a garantir o suporte adequado à saúde e nutrição para as crianças", disse a diretora executiva do UNICEF, Catherine Russell.
"Ao longo de décadas de compromisso de indivíduos, comunidades e nações para alcançar as crianças com serviços de saúde de baixo custo, qualidade e eficazes, mostramos que temos o conhecimento e as ferramentas para salvar vidas."
O relatório revela que mais crianças estão sobrevivendo hoje no mundo, com a taxa global de mortalidade infantil abaixo dos 5 anos tendo diminuído 51% desde 2000. Vários países de baixa renda e de renda média baixa superaram essa queda, mostrando que o progresso é possível quando os recursos são adequadamente alocados para a atenção primária à saúde, incluindo a saúde e o bem-estar infantil. No Brasil, a redução foi de 60% desde 2000. Camboja, Malawi, Mongólia e Ruanda reduziram a mortalidade abaixo dos 5 anos em mais de 75% no período.
Mas os resultados também mostram que, apesar desse progresso, ainda há um longo caminho a percorrer para acabar com todas as mortes de crianças e adolescentes evitáveis. Além dos 4,9 milhões de vidas perdidas antes dos 5 anos – quase metade das quais eram recém-nascidos – as vidas de outros 2,1 milhões de crianças, adolescentes e jovens com idades entre 5 e 24 anos também foram interrompidas. A maioria dessas mortes estava concentrada na África Subsaariana e no Sul da Ásia.
Essa perda trágica de vida se deve principalmente a causas evitáveis ou tratáveis, como parto prematuro, complicações no momento do nascimento, pneumonia, diarreia e malária. Muitas vidas poderiam ter sido salvas com melhor acesso a atenção primária à saúde de alta qualidade, incluindo intervenções essenciais e de baixo custo, como vacinações, disponibilidade de pessoal de saúde qualificado no momento do nascimento, apoio à amamentação precoce e contínua, e diagnóstico e tratamento de doenças infantis.
"Embora tenha havido progressos bem-vindos, a cada ano milhões de famílias ainda sofrem com a devastadora dor de perder uma criança, muitas vezes nos primeiros dias após o nascimento", disse o diretor-geral da OMS, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus.
"O local de nascimento de uma criança não deve ditar se ela vive ou morre. É crucial melhorar o acesso a serviços de saúde de qualidade para todas as mulheres e crianças, inclusive durante emergências e em áreas remotas."
Melhorar o acesso a serviços de saúde de qualidade e salvar vidas de crianças contra mortes evitáveis requer investimento em educação, empregos e condições de trabalho decentes para os trabalhadores de saúde prestarem atenção primária à saúde, incluindo os agentes de saúde comunitários.
Como membros confiáveis da comunidade, os agentes de saúde comunitários desempenham um papel importante em alcançar crianças e famílias em cada comunidade com serviços de saúde que salvam vidas, como vacinações, testes e medicamentos para doenças mortais, mas tratáveis, e suporte nutricional. Eles devem ser integrados aos sistemas de atenção primária à saúde e remunerados de forma justa, bem treinados e equipados com os meios para fornecer a mais alta qualidade de cuidados.
Estudos mostram que as mortes de crianças nos países de maior risco poderiam diminuir substancialmente se as intervenções de sobrevivência infantil baseadas na comunidade pudessem alcançar aqueles que necessitam. Esse pacote de intervenções sozinho salvaria milhões de crianças e forneceria cuidados mais próximos de casa. O manejo integrado das doenças infantis - especialmente as principais causas de morte pós-neonatal, infecções respiratórias agudas, diarreia e malária - é necessário para melhorar a saúde e a sobrevivência infantil.
"O relatório deste ano é um marco importante mostrando que menos crianças morrem antes de completar cinco anos", disse o Dr. Juan Pablo Uribe, diretor global de Saúde, Nutrição e População do Banco Mundial e Diretor da Facilidade Global de Financiamento para Mulheres, Crianças e Adolescentes.
"Mas isso simplesmente não é suficiente. Precisamos acelerar o progresso com mais investimentos, colaboração e foco para acabar com mortes infantis evitáveis e honrar nosso compromisso global. Devemos isso a todas as crianças para garantir que tenham acesso aos mesmos cuidados de saúde e oportunidades, independentemente de onde nasçam."
Embora os números globais mostrem sinais encorajadores de progresso, também existem ameaças substanciais e desigualdades que colocam em risco a sobrevivência infantil em muitas partes do mundo. Essas ameaças incluem o aumento da desigualdade e da instabilidade econômica, conflitos novos e prolongados, o impacto das mudanças climáticas e as consequências da COVID-19, que poderiam levar à estagnação ou até mesmo à reversão dos ganhos e à contínua e desnecessária perda de vidas infantis. Crianças nascidas nos lares mais pobres têm o dobro de chances de morrer antes dos cinco anos em comparação com os lares mais ricos, enquanto crianças que vivem em ambientes frágeis ou afetados por conflitos têm quase três vezes mais chances de morrer antes de completar cinco anos do que crianças em outros lugares.
"As novas estimativas mostram que fortalecer o acesso a cuidados de saúde de alta qualidade, especialmente no momento do nascimento, ajuda a reduzir a mortalidade entre crianças menores de 5 anos", disse Li Junhua, subsecretário-geral das Nações Unidas para Assuntos Econômicos e Sociais.
"Embora as metas alcançadas na redução da mortalidade infantil sejam importantes para rastrear o progresso, elas também devem nos lembrar que esforços e investimentos adicionais são necessários para reduzir as desigualdades e acabar com as mortes evitáveis entre recém-nascidos, crianças e jovens em todo o mundo."
Nas taxas atuais, 59 países não alcançarão a meta de mortalidade abaixo dos 5 anos dos ODS, e 64 países não atingirão a meta de mortalidade neonatal. Isso significa que estima-se que 35 milhões de crianças morrerão antes de completar cinco anos até 2030 – um número que será suportado principalmente por famílias na África Subsaariana e no Sul da Ásia, ou em países de baixa e média renda.
O relatório também destaca grandes lacunas nos dados, particularmente na África Subsaariana e no Sul da Ásia, onde o fardo da mortalidade é alto. Os sistemas de dados e estatísticas devem ser aprimorados para rastrear e monitorar melhor a sobrevivência e saúde infantil, incluindo indicadores sobre mortalidade e saúde por meio de pesquisas domiciliares, registro de nascimentos e óbitos por meio de Sistemas de Informação em Gestão da Saúde (SIGS) e Estatísticas Vitais e de Registro Civil (CRVS).
Para saber mais, visite a página e o banco de dados do Grupo Interinstitucional das Nações Unidas para Estimativa da Mortalidade Infantil (em inglês): https://childmortality.org/