por Arilson Chiorato
Os dias que passaram foram cruciais para expor à opinião pública aquilo que já vimos apontando há algum tempo. Não é de hoje que sabemos a forma como a família Bolsonaro tira proveito dos cargos públicos e que enxergam o Estado, como extensão da propriedade privada, resquícios do coronelismo e clientelismo que por décadas usurparam o Estado brasileiro em nome de algumas famílias. Uma das características das famílias de coronelistas eram justamente a ignorância e a saga pelo poder, envolvendo os filhos homens no debate público para que a família continuasse a prosperar diante de seu rebanho eleitoral.
Mas os acontecimentos também apontaram a outra face da moeda que muito tem a dizer sobre a história de nosso país. A Justiça brasileira é, desde sua fundação, uma instituição elitista, seus membros, aprovados nos concursos públicos, são em maioria pessoas que tiveram uma vida confortável e de preparo para alcançarem seus postos. É moldada inclusive para aqueles que não compartilham da mesma ideologia dominante, quando um pobre ou pertencente da classe média passa a integrar esta instituição, dificilmente conseguirá ir além, pois a burocracia da Justiça, intencionalmente, condiz aos interesses da elite cultural e econômica.
É neste segundo quadro que se enquadra o ex-juiz e ex-superministro Sergio Moro, um elemento importante para a elite brasileira que fez o seu trabalho buscando desconstruir o projeto popular petista e nosso maior líder, o ex-presidente Lula. Moro é apenas uma peça de toda a engrenagem, um verdadeiro peão que se sobressaiu unicamente por seu ego e a vontade se ser mais do que o cargo da burocracia pública lhe permitia. Projetou-se como um herói nacional e juntamente com a Globo, outra fiel escudeira da elite nacional, com quem tabelou vazamentos da Operação Lava Jato, tornou-se uma figura com que muitos se identificaram.
Mas essa identificação não foi automática, ela é resultado de uma propaganda ostensiva contra o PT e o projeto popular. A grande mídia trabalhou diuturnamente durante anos a fio para que as pessoas em determinado momento, encontrassem em outro personagem, como aconteceu com Collor, também projetado pela Globo, um “salvador da pátria”. E foi nesse momento que os caminhos de Moro e Bolsonaro se cruzaram. Os escândalos do governo Temer fizeram com que o projeto da direita institucional fosse por água a baixo, como já tinham ido anteriormente com Aécio Neves. Bolsonaro não era a primeira opção da elite nacional, na verdade ele foi o que sobrou.
Bolsonaro, como bom representante do coronelismo, utilizou a postura paternalista e uma nova roupagem do “voto de cabresto”, ferramenta que atualizou para a “disseminação de fakenews”. As fakenews são a forma que encontrou para alienar os eleitores e se fortalecer enquanto líder carismático. Moro, como representante da elite, por outro lado garantiu a eleição de Bolsonaro mantendo preso político o ex-presidente Lula, único candidato que segundo as pesquisas o derrotariam.
Essa contextualização é necessária para entendermos quem são estes dois personagens que agora estão estremecendo a política nacional em denúncias públicas que estão mais para delações premiadas. Moro, que há alguns anos está sendo apontado como um cidadão íntegro, segundo o presidente Jair Bolsonaro, pediu uma vaga no Supremo Tribunal Federal e “proteção financeira” para a família. Ao mesmo tempo, Moro acusa Bolsonaro de tentar instrumentalizar a Polícia Federal e interferir nas investigações, que já chegaram a seu filho Carlos Bolsonaro, o 02.
Dessa história sabemos que a única novidade é que os principais envolvidos estão se digladiando publicamente, mas já estava evidente há anos que um se aproveita do Estado para proteger sua família, subsistindo da carreira política, e o outro se aproveita da carreira de magistrado para se projetar politicamente de forma a alimentar seu imenso ego. Não podemos nos enganar, Moro não se importa com o uso político da PF, Moro encontrou um pretexto para deixar o barco que estava afundando. Se tem uma coisa que Moro nunca se incomodou foi com interferências, vide sua relação quase umbilical com o Ministério Público enquanto era juiz.
O que nos cabe nessa situação vergonhosa e deprimente é cobrar que ambos sejam indiciados e respondam pelos seus crimes de prevaricação e obstrução a justiça. Para o Brasil, uma página lamentável que deve ser passada a limpo, combater os vermes para que possamos seguir em frente e combater o vírus, em uma saída decente e ousada para proteger os brasileiros e o Brasil da pandemia de coronavírus.
*Arilson Chiorato é administrador, mestre em Gestão Urbana, deputado estadual pelo PT-PR e presidente do Partido dos Trabalhadores do Paraná.
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