A comunidade internacional fez grandes progressos em direção à meta global de cobertura de áreas protegidas e conservadas, mas ficou muito aquém de seus compromissos com a qualidade dessas áreas. As informações são do novo relatório do Centro de Monitoramento da Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP-WCMC) e da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), produzido com o apoio da National Geographic Society e liberado nesta quarta-feira (19).
O Relatório Planeta Protegido aponta um bom desempenho desde 2010, com mais de 22 milhões de km2 de terra e 28 milhões de km2 de oceano protegidos ou conservados e 42% da cobertura atual agregada na última década. No entanto, um terço das principais áreas de biodiversidade não possui qualquer cobertura, e menos de 8% da terra está protegida e conectada, indicando fragilidade nos instrumentos de defesa da biodiversidade.
As informações contidas no relatório derivam da avaliação final da Meta 11 de Aichi, que trata das áreas protegidas e conservadas até 2020. Nela está incluso o compromisso de proteger pelo menos 17% da terra e das águas interiores e 10% do meio ambiente marinho.
Preservação em números - Hoje, 22,5 milhões de km2 (16,64%) de ecossistemas terrestres e aquáticos e 28,1 milhões de km2 (7,74%) de águas costeiras e do oceano estão dentro de áreas protegidas e conservadas documentadas. Isso representa um aumento de mais de 21 milhões de km2 (42% da cobertura atual) desde 2010, de acordo com o novo relatório. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente calcula que a cobertura terrestre excederá consideravelmente a meta de 17% quando os dados de todas as áreas forem disponibilizados, uma vez que muitas áreas protegidas e conservadas permanecem não relatadas.
O marco global pós-2020 para a biodiversidade deverá ser acordado na Conferência sobre a Diversidade Biológica da ONU (CBD COP15) em Kunming, China, em outubro, e espera-se que inclua a ambição de aumentar a cobertura e a eficácia das áreas protegidas e conservadas. O relatório Planeta Protegido conclui que o desafio será melhorar a qualidade tanto das áreas existentes quanto das novas para alcançar mudanças positivas para as pessoas e para a natureza, já que a biodiversidade continua a diminuir, mesmo dentro de muitas áreas protegidas. O padrão da Lista Verde da IUCN é a única medida global de uma mudança geral na qualidade.
Neville Ash, Diretor do UNEP-WCMC, afirma: "Áreas protegidas e conservadas desempenham um papel crucial no combate à perda da biodiversidade, e grandes progressos foram feitos nos últimos anos no fortalecimento da rede global de áreas protegidas e conservadas. Entretanto, designar e contabilizar mais áreas protegidas e conservadas é insuficiente; elas precisam ser efetivamente gerenciadas e governadas de forma equitativa se quiserem perceber seus muitos benefícios em escala local e global e garantir um futuro melhor para as pessoas e para o planeta".
Eficácia e equidade - Para serem eficazes, as áreas protegidas e conservadas precisam incluir lugares importantes para a biodiversidade. No entanto, um terço das áreas-chave da biodiversidade, seja em terra, águas interiores ou no oceano, ainda não estão protegidas de forma alguma, de acordo com o relatório.
As áreas protegidas e conservadas também precisam estar melhor conectadas entre si, para permitir a movimentação de espécies e o funcionamento de processos ecológicos. Embora tenha havido melhorias recentes, menos de 8% da terra está protegida e conectada — muito abaixo dos quase 17% da área terrestre que agora está sob proteção — e ainda há a necessidade de assegurar que as áreas circundantes sejam manejadas adequadamente para manter os valores de biodiversidade.
Além de designar novas áreas, o relatório solicita que as áreas protegidas e conservadas existentes sejam identificadas e reconhecidas, prestando contas dos esforços dos povos indígenas, comunidades locais e entidades privadas, ao mesmo tempo em que reconhece seus direitos e responsabilidades. Os esforços de conservação desses guardiões continuam subvalorizados e subnotificados, embora suas contribuições sejam extensas para garantir um futuro para a natureza.
O relatório também conclui que é preciso fazer mais para administrar as áreas protegidas e conservadas de forma equitativa, de modo que os custos da conservação não sejam arcados pelas populações locais enquanto seus benefícios são usufruídos por outros. Isto é fundamental para construir redes de conservação que tenham o apoio e a participação de pessoas em todos os lugares.
"A IUCN celebra o enorme progresso feito, especialmente na última década, com áreas protegidas cobrindo uma proporção crescente do globo. Como a biodiversidade continua a diminuir, agora pedimos que as Partes da Conferência das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica em Kunming estabeleçam uma meta ambiciosa que garantirá a cobertura de 30% de áreas protegidas em terra, água doce e oceano até 2030 - e essas áreas devem ser colocadas da melhor forma para proteger a diversidade da vida na Terra e ser gerida de forma eficaz e governada de forma equitativa", afirma o Diretor Geral da IUCN, Bruno Oberle.
Proteção e restauração - Ao proteger áreas intactas e restaurar ecossistemas degradados, os países podem criar uma rede para a natureza que ajuda a deter e reverter a perda de biodiversidade, mantém os serviços essenciais dos ecossistemas, ajuda a sociedade a enfrentar e se adaptar às mudanças climáticas e reduz o risco de futuras pandemias. Áreas gerenciadas com eficácia, protegidas e conservadas podem ajudar a prevenir uma maior degradação dos ecossistemas e consolidar o progresso na Década das Nações Unidas da Restauração de Ecossistemas.
A Década será lançada oficialmente no dia 5 de junho de 2021, Dia Mundial do Meio Ambiente. Em muitos casos, as áreas em processo de restauração serão provavelmente adicionadas à rede de áreas protegidas e conservadas, para garantir que os benefícios da restauração sejam mantidos.
ONU BRASIL
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