O Fundo de População da ONU (UNFPA) lança relatório global sobre a crise invisível de gravidez não intencional, durante o 36º Congresso Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, realizado entre os dias 12 e 15 de julho, em Campo Grande/MS. São 120 milhões de gravidezes não planejadas, a cada ano, no mundo. O dado que mais chama a atenção no estudo, com relação ao Brasil, é o custo estimado de gestações não planejadas: 2,33 bilhões de dólares.
Estudo brasileiro, incorporado no documento internacional, aponta que estes custos incluem gastos com cuidados referentes a abortos espontâneos (0,8%), parto para as gestações não intencionais (30%) e para pagar por quaisquer complicações dos bebês que surgiram nessas situações (cerca de 70%). Os pesquisadores excluíram os custos de abortos induzidos e não incluíram os custos de morbidade materna e ausência da força de trabalho. A análise dos dados pode sugerir, que sob a perspectiva da saúde integral e do bem-estar, os números podem ser ainda mais expressivos.
A ONU pretende com o relatório, intitulado "Vendo o invisível: em defesa da ação na negligenciada crise da gravidez não intencional", chamar a atenção da comunidade internacional, especialmente dos governos, para dar visibilidade à situação para além de estereótipos, preconceito ou discussões relacionadas à moral. Através de evidências, o estudo mostra que a gravidez não intencional é uma questão humanitária, de saúde, de direitos humanos e de desenvolvimento.
Segundo a representante auxiliar do UNFPA, Júnia Quiroga, é imprescindível convencer a comunidade internacional de que essa é uma crise a ser visibilizada. "Um trabalho sério, baseado em evidências, precisa ser feito com urgência para que a gravidez seja uma escolha. É primordial disponibilizar políticas públicas de planejamento da vida reprodutiva, métodos contraceptivos modernos e seguros, atender as necessidades de saúde de todas as pessoas, especialmente de mulheres e meninas e enfrentar a violência sexual e de gênero".
Causas negligenciadas - A gravidez não intencional tem como razões o baixo acesso a métodos contraceptivos seguros e modernos e a incapacidade de recusar relações sexuais seja por questões culturais ou por diferentes graus de violência, entre outros. Em contextos de emergência ou adversidades, como a pandemia de COVID-19 e emergências humanitárias como a atual guerra na Ucrânia, esse cenário fica ainda mais evidente.
Alguns estudos mostraram que mais de 20% das mulheres e meninas refugiadas já enfrentaram violência sexual. Nos 12 primeiros meses da pandemia de COVID-19, estima-se que 1,4 milhões de gravidezes não intencionais ocorreram devido à dificuldade de acesso a métodos contraceptivos modernos e seguros.
Consequências. Toda a sociedade é afetada ao longo de gerações - Quando as gestações não são intencionais, muitas vezes levam a uma pior saúde física e mental. Meninas grávidas podem ser forçadas a se casar ou deixar a escola. Muitas mulheres abandonam o emprego. Aquelas em relacionamentos abusivos correm duas vezes mais risco de gravidez não planejada, e essas gestações muitas vezes dificultam o corte dos laços com o agressor. Essas são algumas das consequências, quando mulheres não têm a possibilidade de escolher engravidar ou não.
Outra grave consequência são os abortos inseguros, uma das principais causas de morte materna em todo o mundo e que hospitaliza milhões de mulheres, todos os anos. Mais de 60% das gestações não intencionais terminam em aborto e as melhores estimativas indicam que 45% de todos os abortos são inseguros.
O Fundo de População da ONU alerta que das milhões de gravidezes não intencionais que acontecem a cada ano muitas serão recebidas com prazer. Outras causarão medo ou preocupação, mas acabarão por resultar em filhos que são profundamente amados e uma fonte de grande alegria.
"Toda criança nascida de uma gravidez não intencional é uma pessoa com valor inerente, dignidade e direitos humanos. No entanto, nada disso está em conflito com o fato de que gestações não planejadas podem desencadear uma série de consequências negativas que ecoam por gerações. Há perdas de educação e renda. O preço cumulativo a pagar é enorme, custando bilhões aos sistemas de saúde", aponta o documento.
Acesse o relatório completo aqui.
Fonte: ONU Brasil
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