Desta vez, precisava ser diferente Ao ocuparem, pela primeira vez, a área em 2004 as famílias da Comunidade Lutzenberger se depararam com um solo devastado. Mesmo sendo uma atividade incompatível com o Plano de Manejo de uma área de proteção ambiental, na área praticava-se a criação de búfalos e plantio e brachiaria, uma variedade que serve à pastagem de animais e sufoca as plantas nativas.
O agricultor Jonas Souza relata que a área tem um lençol freático próximo do solo, de cerca de 60 centímetros abaixo da terra. Com a criação dos búfalos houve naquele período um processo de compactação e rebaixamento do solo. Além disso, o desmatamento e desvio do curso do Rio Pequeno, localizado dentro da área onde reside a comunidade, intensificaram o processo de degradação ambiental e empobrecimento do solo. "Era uma área extremamente degradada. Quando a gente fez a ocupação, nos dois primeiros anos os búfalos ficaram e depois tiraram, e a gente estava quase convencido que ali não conseguiria fazer ocupação pelas condições que a terra estava", destaca Jonas. Além disso, a criação solta dos animais configurava em risco para as famílias. "Na época, a gente conseguiu, com muito esforço, plantar arroz, feijão e banana, e o boi e o búfalo avançava nas nossas roças e comiam. Ficava difícil começar o plantio tudo de novo", relata Luzinete. A criação dos búfalos apenas deu sequência aos demais ciclos de exploração do meio ambiente por fazendeiros ou empresários. Antes disso, teve os ciclos de exploração da madeira, da palmito-jussara, dos monocultivos, da pecuária. Todos eles, relatam Jonas, contribuíram para um processo de expulsão dos territórios das comunidades caiçaras, dos posseiros e pequenos agricultores que não tinham a documentação da área que residiam há décadas. "Foi gerando uma tensão crescente. E muitas das famílias abandonaram as comunidades e foram para periferia das cidades. Sem acesso aos territórios e com precarização das condições de vida, as famílias começaram a denunciar o processo de degradação ambiental", resgata Jonas. Foi neste momento, e inspirado pela crescente pela movimentação em defesa de métodos de cultivos "mais limpos", como a agroecologia, as famílias optaram pela implementação de um modelo de cultivo não tradicional. A Jornada de Agroecologia do Paraná, surgida junto com a comunidade, fortaleceu esforços internos para resgate de sementes e de conhecimento tradicional, pelo não uso de agrotóxicos e manejo mais cuidadoso da terra. Uma memória da adolescência também esteve presente na defesa da agroecologia por Luzinete. "Há uns trinta anos tive uma experiência com veneno [agrotóxico] que nunca saiu da cabeça. Na mesma semana que passei veneno na bananeira para matar as pragas, quando fui ver se elas tinham morrido a bananeira tinha todos os sinais de que tinha levado uma facada, a água escorria dela, foi horrível", recorda. Dessa vez então, no novo projeto de cultivo e uso da terra tinha que ser diferente. "Como algumas pessoas que vieram para a área tinham a prática de uso de veneno a gente teve que fazer informes e orientação cotidianas. A gente sempre colocava que naquela área teria que ser diferente – que seria uma área para olhos do mundo, para pensar o cuidado e na saúde da vida e meio ambiente", rememora ela. |
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