Como uma versão vizinha de um filme que já conhecemos, Javier Milei foi eleito presidente da Argentina. Há muitas interpretações e análises, mas Valério Arcary sintetiza bem o tamanho do problema: o neofascismo é um fenômeno global, onde a extrema-direita se alimenta da crise econômica em sociedades fraturadas e da incapacidade da esquerda de sair do beco imposto pelo neoliberalismo. E como destaca Giovana Guedes, pode ser o fim da linha também do peronismo e da sociedade industrial que o projetou. Também não são poucos os problemas que os resultados da eleição argentina trazem ao governo Lula, frustrando a tentativa da política internacional brasileira de retomar a integração continental, salvar o Mercosul e projetar o Brics. Longe de rumar para uma unidade maior, a América Latina parece cada dia mais uma colcha de retalhos. E só falta a volta de Trump no ano que vem para fechar as portas de um ciclo de governos progressistas que já nasceu frágil. Claro, também há análises que buscam diferenciar a vitória da extrema-direita na Argentina e do bolsonarismo no Brasil, defendendo que "não é bem assim", que a realidade é outra e que a Argentina tem tradição de derrubar presidentes na rua. Assim, muitos apostam que o governo Milei não sobreviveria por muito tempo. Mas o mesmo não foi dito de Bolsonaro? Seja como for, a vitória de Milei foi a melhor notícia que os bolsonaristas tiveram este ano e reforça a ideia de que ainda há muito espaço para a extrema-direita crescer. E é preciso que o governo brasileiro também entenda isso, alerta Fernando Horta, pois se ficar preso nas amarras da política fiscal e das alianças à direita, sem fazer também a disputa ideológica, o "efeito caipirinha" pode virar a ressaca de um tango.
Fonte: Jornal Brasil de Fato
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