segunda-feira, 11 de abril de 2022

Brasil: Especialista da ONU denuncia erosão da democracia, e fala da urgência de espaços seguros para a sociedade civil




Brasil: Especialista da ONU denuncia erosão da democracia, e fala da urgência de espaços seguros para a sociedade civil

 

 Especialista da ONU expressou hoje preocupação com as restrições aos direitos dos brasileiros à plena e ativa participação social e política, e os níveis deploráveis de violência dirigida contra pessoas defensoras dos direitos humanos, mulheres jornalistas, povos indígenas e                           comunidades tradicionais, em particular de afrodescendentes.

 

Ao fim de uma visita oficial de 12 dias ao Brasil, o Relator Especial sobre os direitos à reunião pacífica e liberdade de associação, Clément Nyaletsossi Voule, instou o Estado a criar e manter um ambiente seguro e propício ao exercício do direito à reunião pacífica e associação.

 

"Eu dou as boas vindas à abertura e cooperação das autoridades federais e estaduais com os mecanismos de direitos humanos." "Eu saúdo a criação do Observatório Parlamentar da RPU na Comissão de Direitos Humanos e Minorias na Câmara dos Deputados, em parceria com o escritório das Nações Unidas no Brasil,"                  Voule disse.

 

A Constituição Brasileira garante esses dois direitos para todos que vivem no território sem discriminação baseada em cor, religião, orientação sexual, status social ou origem de nascimento. "Estou preocupado que nos últimos anos tenham surgido tendências que limitam o gozo desses direitos em todas as áreas", disse o                               especialista.

 

"Deploro políticas que restringem a participação social e política, estreitando espaços de consulta sobre políticas públicas e tomada de decisão", disse ele aos  repórteres, condenando o fechamento de 650 conselhos participativos.

 

Voule disse também estar preocupado com o frequente uso excessivo da força por agentes policiais e com violações de direitos humanos durante manifestações. "Estou preocupado com a falta de um protocolo claro e unificado para o uso da força                            durante protestos e de um mecanismo eficaz e independente para a supervisão da conduta de agentes policiais", disse ele.

 

O especialista da ONU manifestou que a violência política contra lideranças sociais, candidatos e candidatas, e lideranças políticas eleitas, em particular mulheres afrodescendentes e trans, também representa uma séria ameaça à participação política e à democracia.

 

Com as eleições gerais marcadas para outubro de 2022, ele disse que o Estado  deve garantir que todos os processos eleitorais sejam livres de discriminação, desinformação, fake news e discursos de ódio. "Exorto o Estado a proteger candidatos e candidatas de quaisquer ameaças ou ataques online e offline".

 

Durante sua visita, Voule viajou para Brasília, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

 

"Estou impressionado com a sociedade civil robusta, ativa e diversificada no Brasil, que vem desempenhando um papel crítico na luta pela justiça social, pela preservação da democracia e do Estado de direito e, mais recentemente, no combate à COVID-19", disse ele.

 

"Por outro lado, estou chocado com os níveis de violência contra defensores e defensoras dos direitos humanos, comunidades tradicionais, incluindo quilombolas e                     povos indígenas, bem como lideranças comunitárias nas favelas, motivados por fatores como o racismo estrutural." A violência e a discriminação contra praticantes de religiões de matriz africana são também motivo de preocupação.

 

"Conheci coletivos de mães que querem justiça e responsabilização pela perda de                       seus filhos. Elas não pedem nada além daquilo que é previsto na legislação brasileira, mas vivem sob ameaça e medo constante de violência," disse ele.

 

"Pessoas defensoras dos direitos humanos enfrentam um ambiente violento marcado por estigmatização, ameaças, assédio, ataques físicos e assassinatos," disse Voule. Pessoas que atuam em defesa da terra, indígenas e ativistas ambientais enfrentam riscos graves e as comunidades e pessoas defensoras são   frequente e sistematicamente visadas.

 

O Governo deve tomar medidas para garantir que as comunidades tradicionais vivam livres do medo da perseguição e gozem do direito de se reunirem e de se organizarem livremente para construir processos de tomada de decisão autônomos. Voule disse estar profundamente inquieto que os mandantes da execução de Marielle Franco em 2018, defensora de direitos humanos e vereadora afro- brasileira, ainda não tenham sido identificados.

 

O especialista da ONU disse que o Estado deve investigar esta execução de forma                            eficaz, rápida, completa e imparcial, e tomar medidas contra os responsáveis como                        previsto no direito nacional e internacional.

 

O especialista da ONU disse que havia cerca de 20 projetos de lei sendo analisados                                   p elo Congresso Nacional, em específico os PLs 1595/19, 272/16 e 732/2022 que, se                          adotados, efetivamente criminalizariam as atividades dos movimentos sociais sob o pretexto da segurança nacional e da luta contra o terrorismo. Apelou ao governo para que altere os projetos de lei de forma que estejam alinhados às normas internacionais.


 O Relator Especial apresentará um relatório abrangente ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, incluindo suas conclusões e recomendações, em junho de 2023.

 


O Sr. Clément Nyaletsossi Voule foi nomeado Relator Especial sobre o direito à reunião pacífica e liberdade de associação pelo Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em março de 2018. Ele é advogado e trabalha atualmente em Genebra no campo dos direitos humanos. Antes de ser nomeado, dirigiu o programa africano do Serviço Internacional para os Direitos Humanos (ISHR). O Sr. Voule também trabalhou como Secretário-Geral da Coalisão Togolesa de Defensores dos Direitos Humanos, como militante da Coalisão Togolesa para o Tribunal Penal Internacional e como Secretário-Geral da Anistia Internacional - Togo. Desde 2011, o Sr. Voule é membro especialista do Grupo de Trabalho para Indústrias Extrativistas, o Meio Ambiente e as Violações dos Direitos Humanos da Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos. O seu mandato abrange todos os países e foi recentemente renovado pela Resolução 41/12 do Conselho dos Direitos Humanos.

 

Os Relatores Especiais formam o que é conhecido como Mandato de Procedimentos Especiais do Conselho de Direitos Humanos. Procedimentos Especiais, o maior corpo de especialistas independentes no sistema de Direitos Humanos da ONU, é o nome geral dos mecanismos independentes de avaliação e monitoramento do Conselho que tratam de situações em países específicos ou de questões temáticas em todas as partes do mundo. Os especialistas em procedimentos especiais trabalham de forma voluntária; não são funcionários da ONU e não recebem um salário por seu trabalho. Eles são independentes de qualquer governo ou organização e atuam em sua capacidade individual.

 

Página do ACNUDH: Brasil


Fonte: ONU Brasil

sexta-feira, 8 de abril de 2022

Destaques: A semana na piauí #104




 
 

anais do crime

Investigação revela como PCC ameaça juízes

Integrantes do PCC dão ordens e armam planos para matar juízes e promotores envolvidos em suas condenações, revela uma investigação do Ministério Público. Reportagem mostra que advogados ligados aos traficantes serviam de pombo-correio entre os criminosos e sabiam do esquema de assassinatos. Veja na reportagem.

ALLAN DE ABREU

 
 

questões ambientais

Sinal verde para a energia suja

Lobby do carvão mineral arrancou incentivo do governo Bolsonaro para a exploração de uma das fontes de energia mais poluentes. Com isso, o Brasil vai na contramão das orientações de ambientalistas e do próprio compromisso firmado pelo país com organizações internacionais. Veja na reportagem.

MARTA SALOMON

 

questões da informação

A guerra das fontes

A Jovem Pan, que se define como a maior da América Latina na área de radiodifusão, foi incluída na lista de fontes não confiáveis da Wikipédia, mostra reportagem. Agora, qualquer usuário tem legitimidade para remover informações inseridas ali com base em conteúdos da emissora.

BERNARDO ESTEVES

 

questões midiáticas

Parem as máquinas

A grande imprensa brasileira está em crise, tanto no modelo de negócio como na legitimidade da atividade jornalística. Na piauí_187, um ensaio destrincha a responsabilidade da própria imprensa no agravamento da tempestade que pode erodir a democracia brasileira.

ANTONIO ENGELKE

 
 

=igualdades

Em eficiência energética, tamanho não é documento

No quesito energia, os carros estão entre as opções menos eficientes. Um automóvel gasta 63 vezes a quantidade de energia usada por uma bicicleta elétrica para fazer o mesmo trajeto. Mas, ainda que seja menos eficiente, o transporte rodoviário é dominante no Brasil. Confira no =igualdades.

CAMILLE LICHOTTI E RENATA BUONO

 
 
 

podcasts

Foro de Teresina #195

O Foro analisa o fortalecimento de Bolsonaro depois do troca-troca partidário, comenta a relação do governo com lobistas a partir da desistência de Adriano Pires da presidência da Petrobras e fala do movimento de Lula em direção ao mercado financeiro.

 
 

colunistas

Documentários brasileiros em questão

Documentários brasileiros têm a sina de focar em personagens e eventos do passado, em detrimento das urgências do momento. Nada indica que o Brasil vá superar esse estigma, passando a fazer mais documentários que sejam interlocutores ativos e respeitados no debate público do país. Leia na coluna.

EDUARDO ESCOREL

 

cartuns

Cartum de J.Carlos

 
 
 
 

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revista piauí

2022


sexta-feira, 1 de abril de 2022

TNC: Começando uma nova história com a Coalizão pelas Águas

No Dia da Água, 22 de março, lançamos a nova fase da Coalizão Pelas Águas, nossa iniciativa para proteger as fontes de água e ajudar a garantir segurança hídrica em seus múltiplos usos, para o consumo da população e para o desenvolvimento econômico. O objetivo é expandir esta ação coletiva entre os setores público, privado e a sociedade civil para engajar parceiros pela recuperação e conservação de nascentes e mananciais em bacias hidrográficas da Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.

Conheça a Coalizão pelas Águas


Fonte: The Nature Conservancy


domingo, 27 de março de 2022

Vitória: Justiça derruba a Lei que instituiu o ensino domiciliar no Paraná

Via APP Sindicato




O Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) decidiu por unanimidade nesta segunda-feira (21) que é inconstitucional a lei que instituiu o ensino domiciliar no Paraná. Os(as) desembargadores(as) consideraram que os(as) parlamentares(as) não poderiam legislar sobre o tema, que é de atribuição federal. 

Os(as) desembargadores(as) reafirmaram decisão do Supremo Tribunal Federal de que apenas o Congresso Nacional pode legislar sobre o ensino domiciliar. 

A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) contra a Lei do Ensino Domiciliar no Paraná foi protocolada pela Federação Interestadual de Trabalhadores(as) em Educação Pública (FITE) e deputados(as) estaduais de oposição ao Governo Ratinho Jr.

A ADI argumentou que a lei do ensino domiciliar viola a Constituição Federal, o Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, além de ferir princípios constitucionais aplicáveis à educação, como a pluralidade de ideias e a liberdade de aprender e ensinar. 

O Supremo Tribunal Federal e o Tribunal de Justiça do Paraná já haviam estabelecido que só a União tem competência para legislar sobre o tema, mas os(as) deputados(as) governistas acharam melhor ignorar a Justiça e agora passam vergonha por terem aprovado uma lei ilegal.

Em julho do ano passado, o Tribunal de Justiça já havia considerado institucional lei aprovada na Câmara Municipal de Cascavel autorizando a educação domiciliar no município. Antes, o STF julgara inconstitucionais leis de Alagoas e Rio Grande do Sul com o mesmo objetivo. 

Ignorando o que havia afirmado o Judiciário, 38 deputados estaduais aprovaram a lei do ensino domiciliar no Paraná em setembro de 2021. Apenas oito deputados votaram contra o projeto.

A APP-Sindicato entende que o ensino domiciliar é um ataque frontal ao direito à escola e à proteção de crianças e adolescentes, que subverte o dever do Estado em prover educação e aprofunda  as desigualdades sociais e educacionais existentes no Paraná.