quarta-feira, 10 de agosto de 2022

O “Posto Ipiranga” sumiu


Nem precisamos trazer muitos dados para que você saiba que a situação da economia brasileira não é boa. O número de 33 milhões de pessoas passando fome é quase abstrato, difícil de visualizar, mas a realidade da fila pelo osso é concreta até demais e dá a dimensão de que a vida realmente não está fácil no Brasil. O desemprego é enorme e, para quem consegue trabalhar, a informalidade garante poucos direitos. Isso sem falar na inflação, que perpassa tudo isso e contribui para piorar o cenário todo.

 

Três anos e meio depois da posse de Jair Bolsonaro como presidente, a economia é talvez o ponto mais fraco de seu governo (e olha que a disputa é grande). Não é à toa que Paulo Guedes, apresentado em 2018 como o cara a quem o presidente, pouco entendido de números, recorreria para conduzir o país, o "Posto Ipiranga" a quem se podia perguntar qualquer coisa, desapareceu. Ele tem sido apagado das menções de Bolsonaro em meio aos discursos e agendas que miram o pleito de outubro.

 

Chamou a atenção, por exemplo, a ausência de Guedes do palanque quando a chapa do presidente foi oficialmente lançada pelo PL, no último dia 24, no Rio de Janeiro (RJ). O ministro não compareceu ao evento, cujo palco foi marcado inclusive pela presença de lideranças do centrão, que, ao contrário, não apareciam em 2018. Aliás, na época, Bolsonaro costumava criticar duramente as alianças com políticos mais, digamos, tradicionais. Era quando ele se apresentava como antissistema, lembra?

 

Bom, muita coisa mudou desde então. O nome de Guedes deu lugar nos discursos de Bolsonaro para figuras como a deputada e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP-MS), figura de peso na bancada ruralista, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um dos principais líderes do centrão.

 

Bolsonaro não está sozinho na recente antipatia pelo ministro da Economia. Na verdade, o sumiço de Guedes dialoga com o descontentamento de distintos setores da economia diante de uma crise socioeconômica galopante. O ministro passou a incomodar até grupos neoliberais, embora esses menos por causa dos motivos listados no primeiro parágrafo e mais porque esperavam uma agenda mais aprofundada de reformas e privatizações e um ajuste fiscal mais apertado.  

 

Entre outras coisas, o então "Posto Ipiranga" de 2018 havia se comprometido a aprovar reformas como a tributária, mas a pauta ainda não teve oxigênio suficiente para ir até o fim do trâmite legislativo e empacou no Congresso. Tudo isso foi ampliando, aos poucos, o descrédito de Bolsonaro junto a segmentos como o mercado financeiro, por exemplo. A repórter Cristiane Sampaio registrou aqui o sumiço de Paulo Guedes dos discursos e como diferentes setores da política e da sociedade veem a situação econômica do país.


Fonte: Jornal Brasil de Fato


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